A Origem das Caldeiradas

A origem das Caldeiradas Brasileiras certamente é só uma: Portugal. Aqui, as riquezas do mar e do rio mergulharam numa caldeira de inconfundível sabor do tucupi e do jambu no Pará, do leite de coco no Litoral do Nordeste e nos presentearam com mais esta deliciosa alquimia. O Professor Virgílio Gomes, no texto que segue, nos mostrará todos os caminhos e  variações percorridos pela Caldeirada em Portugal, o que nos explica muito dos acontecidos por cá!



Caldeiradas são uma forma de expressão culinária da costa portuguesa. Mas não só. Vamos descobrir outras caldeiradas muito embora este termo designe maioritariamente as preparações de peixe do mar. Por isso, emblema da nossa costa. O princípio, ou a primeira caldeirada, deve ter sido de uma simplicidade quase acidental. Quem partia à pesca também precisava comer, e por vezes os alimentos trazidos de casa não seriam o ideal, estariam frios e reaquecê-los faria diminuir-lhes a qualidade. Portanto nada melhor, até para economia doméstica, que utilizar o produto da pesca cuja frescura não poderia ser mais interessante. E aqui levanta-se a questão da variedade do pescado. Por certo os peixes que entravam na confeção seriam os de todas as variedades que não fossem as categorias destinadas à venda. E por aqui começará o primeiro conceito de caldeirada. Depois a adição de legumes que transpirassem e fornecessem água à cozedura. Claro que uma gordura também é necessária. O resto é a imaginação individual a funcionar e a disponibilidade de produtos e de temperos. Mas, atenção, sempre tiveram o cuidado de não perturbar a textura, e paladar dos peixes. E a batata? Agora é muito vulgar as caldeiradas terem batatas. Mas elas só são produzidas e divulgadas a partir de meados do século XIX! Como fariam antigamente? E o tomate, hoje imprescindível? A sua chegada também é tardia apesar de aparecer antes da batata.

Comecemos pelo nome. Caldeirada porque era feita numa caldeira, que depois também se chamou tacho ou panela. Mas, descobri uma curiosidade em Vila do Conde, um imposto chamado de “Nabo” ou “Caldeirada” criado pelas freiras do Mosteiro de Santa Clara de Vila do Conde, para aumentar os seus rendimentos, e com aprovação das autoridades da Igreja. Anterior a 1741, há referência da tristeza que os “pobres pescadores continuaram pagando”, voltando a recorrer às Cortes de 1820, e sem resposta satisfatória, dirigem-se novamente, os pescadores, em requerimento ao Rei. Esta situação está bem descrita no livro “As Últimas Freiras” de T. Lino da Assumpção e editado em 1894. Por despacho régio de 16 de junho de 1823, os pescadores ficaram bem contentes pela anulação daquele imposto pois “aquela prestação se não compreendia…”. Aquele imposto era pago diretamente em espécie à chegada dos barcos e com pouca razoabilidade, pois os pescadores queixavam-se que por vezes ficavam sem peixe para levar para casa.

Quando comecei a escrever esta crónica pensava em percorrer o receituário nacional identificando todas as receitas de caldeiradas portuguesas. Depois percebi que ficaria um texto de grande dimensão pelo que alerto, desde já, que apenas irei escrever sobre as caldeiradas de peixes, deixando “outras caldeiradas” para uma crónica futura. Mas por isso, e desde já, deixo a minha estranheza pela expressão popular de “caldeirada” significando confusão ou imbróglio. Pela mistura de vários peixes? Parece, pela expressão, que fariam guerra dentro do tacho lutando cada um pelo seu sabor. Não, não é verdade. Eles complementam-se!

Existem dois grandes grupos de caldeiradas: as confecionadas com todos os produtos a cru, e as confecionadas começando com ligeiro refogado. De pois ainda se devem considerar as que levam batatas e as que se preparam sem este tubérculo. Como referi anteriormente, as caldeiradas são emblema culinário da costa portuguesa. Temos boas caldeiradas de Viana do Castelo, passando pela Póvoa de Varzim e Espinho, e fazemos a primeira paragem em Aveiro para uma caldeirada especial, de enguias. Esta caldeirada prepara-se colocando camadas de enguias (previamente bem limpas e cortadas aos pedaços), de batatas e de cebolas. Estas camadas são regadas com azeite e adicionadas de alho, louro, salsa, gengibre e ou açafrão da Índia, pimenta em pó e sal. Por cima cortam-se fatias fininhas de unto e rega-se o conjunto com um pouco de água. Leva-se ao lume, com tampa, Depois de cozer, retiram-se as fatias de unto que se esmagam com sal grosso, um pouco de vinagre e adiciona-se caldo da caldeirada. A este preparado chama-se geralmente de “moira” que depois se coloca sobre a caldeirada antes de servir. Da calda faz-se uma sopa adicionando pão torrado e umas folhas de hortelã. Bem próximo de Aveiro, na Murtosa, também se faz uma caldeirada de enguias. O que a difere da de Aveiro é o facto de a sopa ser feita com pão de milho e de trigo, migados. Também, a caldeirada, depois de pronta é regada com “moira” mas ao qual se juntou um picante, molho de pimenta ou de piripíri.

Continuando para sul, paramos na Figueira da Foz para petiscar uma Caldeirada de Petinga. Prepara-se fazendo um refogado ligeiro de azeite com cebolas, junta-se tomate, salsa e louro. Depois de apurar junta-se um pouco de água, e colocam-se as petingas (sardinhas pequenas), tempera-se com sal e pimenta e deixa-se cozer. Terminada a cozedura, e depois de esfarelar broa de milho para terrina de levar à mesa, coloca-se a caldeirada. Mas na Figueira ainda se fazem outras caldeiradas de vários peixes.

Agora fazemos paragem no Ribatejo, atravessado pela grandeza do rio Tejo. Nesta região encontramos a famosa Caldeirada à Fragateiro. Para esta caldeirada usam-se especialmente peixes de rio como a fataça, tainha, enguia, cação e também tamboril e safio. Podem-se usar outros peixes que venham da pescaria. Num tacho colocam-se camadas de cebolas, tomate, e alho às rodelas. Sobre estes produtos dispõem-se os peixes cortados às postas ou em pedaços, e ainda a salsa e o louro. Rega-se tudo generosamente com azeite e tempera-se com sal. Leva-se o tacho a lume brando. Entretanto cortaram-se fatias de pão caseiro, já com dois dias, e colocam-se em prato fundo. Sobre este pão despeja-se a caldeirada. Pode também cortar-se o pão para pratos individuais. Da mesma região, e de Almeirim, encontramos também, de peixes do rio, uma Caldeirada à Pescador, ligeiramente diferente. Colocam-se num tacho cebolas, tomate, alho, louro, salsa e azeite. Sobre esta base, colocam-se em camadas alternadas de peixe (enguia, fataça, saboga, tainha…) e de batatas e depois tempera-se com sal e pimenta. Há quem junte um pouco de água. Depois leva-se a cozer em lume brando. À parte preparam-se pratos ou tigelas individuais onde se colocaram fatias de pão que se molham com o molho da caldeirada e depois se coloca o peixe por cima. Esta caldeirada também se pode fazer sem batata e, naturalmente ficará mais caldosa. Neste caso aproveita-se o caldo e faz-se uma sopa juntando massinhas, habitualmente cotovelinhos.

De regresso ao mar, estamos na Nazaré para uma “Caldeirada à Moda da Nazaré”, também chamada de “à Fragateira”. Este termo, no feminino ou no masculino, é por vezes utilizado indistintamente, o que lança alguma confusão a sua denominação. Uma vez, num restaurante de praia quando perguntei a diferença responderam-me que tanto faz, o que é importante é que a caldeirada estivesse boa. E estava! Vamos então ao modo de confecionar. Refoga-se ligeiramente cebolas e alho com azeite e banha de porco. Junta-se tomate, louro, pimento verde às tiras e um ramo de salsa. Sobre o refogado colocam-se primeiro lulas. De seguida camadas alternadas de peixe (safio, cantaril, raia, enguia…) e de batata. Polvilham-se com um pouco de colorau e malagueta cortada fininha. Finalmente colocam-se sardinha e rega-se o conjunto com vinho branco. Coloca-se o tampo do tacho e leva-se a cozer em lume médio. Serve-se no próprio tacho de confeção. Mas nesta região fazem-se muitas e boas caldeiradas. Não podemos esquecer as de Peniche, e eu tive a sorte de o meu amigo Diamantino me ensinar como é que se fazem por lá as boas caldeiradas. Por estas paragens encontramos também uma curiosa “Caldeirada de Sardinha”. Num tacho fundo, colocam-se em camadas alternadas cebolas, tomate, batata e alho. Cada camada é temperada com colorau e sal e pimenta. Com cuidado coloca-se também um ramo de salsa e louro, atados para depois retirar com facilidade. Finalmente colocam-se as sardinhas que depois de limpas foram passadas por sal grosso. Rega-se tudo com azeite em abundância. Coze em lume brando. A propósito de sardinha cito desde já a “Caldeirada à Setubalense”. E esta é bem reveladora do encanto das nossas caldeiradas. Cada região usa os peixes da sua costa. A maravilha da diversidade com pratos únicos. Para esta caldeirada, começa-se por colocar rodelas de cebola, depois batatas aos quartos, pimentos às tiras e tomate em pedaços pequenos. Rega-se com azeite e colocam-se cravinhos da Índia e pimenta em quantidade leve. Leva-se ao lume e deixa-se até as batatas ficarem quase cozidas. Colocam-se agora os peixes (xarrocos, eiroses, lulas, robalos, salmonetes, tamboril,…) e finalmente encerra com uma camada única de sardinhas, e tempera-se com sal. Deixa-se ao lume até os peixes estarem cozidos. Com o caldo sobrante, acrescenta-se um pouco de água e leva-se ao lume até ferver. Nesta altura junta-se massa que geralmente é de cotovelos. Retificam-se os temperos e serve-se como sopa, depois da caldeirada. Se o caldo tiver pedaços de batata, geralmente, esmagam-se com um garfo.

Indo já muito extenso este texto, vou apenas escrever sobre a “Caldeira do Algarve”, e deixarei para próximo texto outras caldeiradas. Não há uma só mas várias caldeiradas no Algarve. Irei tipificar com um exemplo da nossa autoridade culinária que é a minha amiga Maria de Lourdes Modesto. Para a sua caldeirada precisa-se de um bivalve: amêijoas, ou conquilhas ou berbigões que se colocam no fundo do tacho e garantem que o cozinhado não se pegue ao fundo. Depois de regra com azeite colocam-se os peixes obrigatórios como pata-roxa, rascasso e safio, e ainda os facultativos como corvina, peixe-aranha, raia, tamboril, tremelga, ruivo e xarroco, que se colocam em camadas alternadas com cebola, tomate, batata às rodelas, pimentos às tirinhas e alhos picados. Embebeda-se com vinho branco e coloca-se a salsa e o louro, e ainda pimenta. Vai ao lume brando por cerca de meia hora. E deixa a recomendação: “os peixes mais rijos por baixo e os mais leves por cima.”

Ficam a faltar muitas outras caldeiradas de peixes e outras confeções que se assemelham. Como prometido anteriormente, esta aventura das caldeiradas continuará proximamente. Até lá aproveitem a confecionar ou experimentar nos restaurantes. Ah, e não se esqueçam que a caldeirada saberá melhor acompanhada por vinho da sua eleição. Quer dizer, aquele que lhe saiba melhor!

Bom Apetite!

Fonte: http://www.projetosapoti.com.br/?p=615

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Peixes amazônicos dão toque especial à culinária japonesa

Aliar ingredientes japoneses aos amazonenses não é uma tarefa complicada, mas sim deliciosa.




O amazonense vem incorporando a cultura oriental no cardápio. Com a diversidade de peixes e seus respectivos sabores encontrados nos rios da região, aliar ingredientes japoneses aos amazonenses não é uma tarefa complicada, mas sim deliciosa.
O proprietário do Suzuran, Hiroya Takano conta que o restaurante japonês foi pioneiro na região. “Com experiência de mercado, vi que muitos produtos daqui podiam ser aproveitados para a culinária japonesa e foi o que fizemos. Todo ano criamos um ou dois pratos com toque amazônico”, disse o empresário.
Hiroya conta que o local possui oito pratos quentes para aqueles que não gostam muito do peixe cru. Entre eles, o Mapará Imperial, o Pirarucu grelhado com misu, gelatina de tucupi e peixes regionais ao molho agridoce e frutos do mar. Ele explica que o mapará, por exemplo, não é um dos peixes mais apreciados em Manaus. “Mas, no Japão, todos queriam saber que peixe da Amazônia era esse que parecia com a enguia”, disse.
Aqueles que se interessam pela culinária oriental, podem acompanhar o passo a passo para fazer uma receita em casa. Os peixes regionais tem um sabor mais apurado e, por isso, necessitam de alguns cuidados. Hiroya Takano dá algumas dicas para preparar um prato de peixe cru com toque amazônico. Acompanhe.


Fonte: http://www.portalamazonia.com.br/cultura/variedades/peixes-amazonicos-dao-toque-especial-a-culinaria-japonesa/

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Caldeirada de Tambaqui do Cantinho do Peixe


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Dia do Cozinheiro - Peixaria #CantinhoDoPeixe

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Delícias da Peixaria Cantinho do Peixe!!!!

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Delícias da Região Norte: O Tacacá


Tacacá é uma iguaria da região amazônica brasileira, em particular do Amazonas, Roraima, Acre, Amapá, Pará e Rondônia . É preparado com um caldo fino e bem temperado geralmente feito com sal, cebola, alho, coentro do norte, coentro e cebolinha e, principalmente, um caldo amarelado, chamado tucupi. Coloca-se esse caldo por cima da goma de tapioca, também servida com camarão seco e jambu. Serve-se muito quente, temperado com pimenta, em cuias. O tucupi e a tapioca (da qual se prepara a goma), são resultados da massa ralada da mandioca que, depois de prensada para fazer farinha, resulta num líquido leitoso-amarelado. Após deixado em repouso, a tapioca fica depositada no fundo do recipiente e o tucupi na sua parte superior.

Sua origem é dos indígenas paraenses e, segundo Câmara Cascudo, deriva de um tipo de sopa indígena denominada mani poi. Câmara Cascudo diz que “Esse mani poí fez nascer os atuais tacacá, com caldo de peixe ou carne, alho, pimenta, sal, às vezes camarões secos".

Ingredientes
Sem as dosagens, mas a relação de ingredientes está correta

• tucupi
• goma de mandioca
• camarão seco, salgado
• jambu (Spilanthes oleracea)
• sal
• alho
• pimenta de cheiro

Serve-se em cuias. Coloca-se primeiramente um pouco de tucupi e o caldo da pimenta-de-cheiro com tucupi. Acrescenta-se a goma e arranjam-se os ramos do jambu de modo bem distribuído. Colocam-se os camarões e acrescenta-se mais tucupi até quase completar a cuia.

Toma-se o tacacá – não se diz comer, nem beber – levando-se os lábios até a cuia, sorvendo em pequenas quantidades o tucupi , misturado com a goma. Utiliza-se um palitinho de madeira para comer o camarão ou o jambu.

Dado que esta iguaria é servida muito quente, passou-se a usar uma pequena cesta na base da cuia - provavelmente a partir da década de 1990 - para proteger as mãos de quem consome o tacacá.

É habitual consumir-se o tacacá no final da tarde, em via pública, nas tradicionais tacacazeiras. Não é comum servir-se este prato nas refeições principais.

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Ômega-3 pode restaurar cérebro afetado por dietas ricas em gordura



O consumo frequente de junk food não deveria fazer parte da rotina de ninguém, mas a boa notícia é que o Ômega-3 pode reverter os danos causados ao cérebro por dietas ricas em gordura. De acordo com os pesquisadores da Universidade de Liverpool, a substância também é capaz de prevenir danos cerebrais causados por excesso de alimentos ricos em açúcar e gorduras saturadas. 

Segundo os cientistas, o consumo frequente de suplementos de Ômega-3 ou peixes oleaginosos ricos na substância, como salmão, atum, truta, arenque e cavalinha, parece imitar os efeitos de uma dieta equilibrada no organismo, melhorando a qualidade da saúde em geral.  

Pesquisas anteriores comprovaram que uma alimentação rica em açúcar e gorduras pode prejudicar o processo de neurogênese, que gera novas células nervosas. A novidade é que o Ômega-3, também associado a prevenção de doenças cardiovasculares, pode fazer parte das ações que revertem os danos já causados ao cérebro. 

Dietas gordurosas afetam produção de hormônios protetores
Os resultados da pesquisa ainda mostraram que, em dietas gordurosas, há um aumento da circulação de moléculas inflamatórias e de um tipo de gordura chamada triglicérides. Neste caso, os  hormônios que protegem os neurônios e estimulam seu crescimento, secretados após as refeições, são impedidos de chegar ao cérebro.


Fonte

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Pirarucu ao molho branco e Suco de Goiaba é no Cantinho do Peixe!!! #Manaus #Peixaria


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